- Cel Bentin (seleção)
3 poemas, de Charles Marlon

“Nobody Home”
Sossega-te sobre
a cera vermelha do piso
gasto. Escuta as passadas
de um tempo ausente;
da chinela arrastada
saíram estes arranhões.
Quando levantares,
sobre a mesa, te esperam
as contas do mês e a conta dos
dias.
Quando julho penetra,
impregnando a cortina,
é pela falta de outra certeza
que nossas vidas seguem
costuradas com os re-
talhos de tudo o que
não deu certo.
O calado
(a Cel Bentin)
A marcha dos dias pelo
sim, não, talvez. Quem
sabe aonde nos leva
esta mesma rua que
não adianta, não atrasa:
empoça
- convulsão estanque -
e vem, inclusive, a morrer
do outro lado? É de frio, dizem. E,
de fato mesmo, o que há é o edifício,
o dono e tudo
o que - enfim - de fora
engana menos
mal.
Silêncio é aquilo que
não
se vê; quieto não:
calado.
Felis
“É só um animal/que não faz/nenhuma/festa.
E se engasga/com seu/bolo/de arestas.”
Eduardo Lacerda
Ida-
de:
aquilo que (por quilo
quase) nos torna aptos
a errar mais e pior e
a aprender
que o amor é
emergência,
mas nunca saída.
Awkward, o desastre
não é a queda, mas a mão
que esbarra bandeja, que
derruba a vidraria já
meio vazia pela
falta de um furor ferino,
felino que soubesse amar
menos e
melhor.

Charles Marlon é poeta e mestrando em Literatura Portuguesa – poesia contemporânea – pela USP. Tem dois livros publicados Poesia Ltda.(2012) e Sub-verso (2014), ambos pela Edutora Patuá.